quarta-feira, 24 de abril de 2013

Será que há o "E viveram felizes para sempre"?

Encontrei este texto que foi publicado no jornal "Público" no dia 16 de Abril num blog de uma amigas, e fiquei prefundamente intrigada, será que os estudiosos tem sempre razão?


E viveram felizes para sempre: a terra prometida, nunca encontrada…

Ninguém vive, nunca viveu, nem nunca viverá apaixonado para sempre pela mesma pessoa! Os neurologistas que estudam a paixão já demonstraram como a paixão se exaure ao fim de dois anos

Apesar de vivermos na modernidade, com tecnologia, globalização, multiculturalismo e progresso há certas ideias, certos preconceitos, que perduram sem que nada os sustente a não ser uma vontade indomável de que a realidade obedecesse a esse ideal e não às leis que efectivamente a governam… Uma dessas ideias é o “viveram felizes para sempre”.

A culpa está disseminada: pelos poetas e pelos escritores (e seus devaneios românticos e odes à paixão), passando pelos argumentistas e realizadores (vejam-se as comédias românticas, um dos géneros cinematográficos mais perniciosos…), pelos contos de fadas e demais contos infantis, pelas escolas, pela TV, ou mesmo pelo sonho de quem está apaixonado e quer para sempre assim ficar, ou de quem não está mas deseja estar, enfim, a cultura ocidental está cravejada de uma mitologia romântica que nunca passou o teste da realidade. Esta é uma ideia, uma mentira ensinada às criancinhas (e também aos adultos), que se torna como que um mantra que, de tanto se repetir, acabaria por se concretizar…

E não se pense que isto é uma questão de somenos importância: a criação de falsas expectativas nas pessoas é um factor destrutivo de felicidade…

O problema é que nunca na história da humanidade se provou, se vivenciou, o “viveram felizes para sempre”. Pelo menos na interpretação que nos é transmitida em que “viveram felizes para sempre” significa “viveram felizes e apaixonados para sempre”…

Sei bem que as utopias, os sonhos, podem servir o propósito de pôr o mundo a avançar. Mas não neste caso. É que não podemos mudar a condição humana! Não podemos mudar, em particular, os mecanismos biológicos que regem as nossas paixões. Criar ilusões, fantasias, nunca cumpríveis, só propicia frustração, inquietação, infelicidade. Não só a paixão não é duradoura, nem sequer é um bom mecanismo de "matching" de longo prazo. A paixão é um mecanismo biológico que, na evolução humana, visou criar laços temporários entre um homem e uma mulher para que a procriação e os cuidados pós-natais fossem possíveis. A “química” faz com que nos apaixonemos por alguém que será um bom "matching" reprodutivo (já há estudos que o demonstram) e não por quem preenche os requisitos para que uma vivência a dois, sustentavelmente feliz, seja possível…

Contrariar o preconceito
Ninguém vive, nunca viveu, nem nunca viverá apaixonado para sempre pela mesma pessoa! Os neurologistas que estudam a paixão já demonstraram como a paixão se exaure ao fim de dois anos, até porque o corpo não mais aguentaria: a paixão é um estado alterado de consciência, um vulcão químico interior que nos torna viciados e obcecados pelo outro. E nem sequer amamos o outro senão uma idealização que dele fazemos… Os padrões neurais da paixão assemelham-se aos dos cocainómanos tal é o vício e a cegueira que de nós se apodera. Por isso, muitos psicólogos aconselham a que ninguém se case enquanto está apaixonado, uma vez que não conseguimos aí avaliar se o outro é, de facto, bom para nós…

Toda esta quimera da paixão misturou-se, na contemporaneidade, com a instituição casamento (ou vivência a dois), tendo-se passado a exigir dessa instituição algo para a qual ela nunca foi testada (e para a qual, objectivamente, não foi criada): a vivência perpétua, plena e feliz, dos cônjuges… O casamento é uma instituição que foi criada por motivos económicos para juntar interesses familiares e, mais tarde, para criar um espaço para a procriação em que o homem provia o sustento e a mulher o trabalho doméstico. Nesse tempo, a lei e a moral impediam o divórcio e ninguém exigia que esse fosse um espaço de felicidade. Sendo esta a história não deixa de ser surpreendente como, de repente, se passou a demandar do casamento tamanha façanha…

A realidade, porém, vem sempre ao de cima: a taxa de separações é hoje a maior de sempre, mostrando a dificuldade da conjugação da independência individual com o projecto conjugal feliz…

Por isso se torna fundamental contrariar o preconceito e ensinar as pessoas (e desde a infância) a conviverem com a realidade e a procurarem os paraísos possíveis. No final, há sempre lugar a escolhas, mas no espaço da realidade: podemos querer viver sempre em paixão, num pulular continuado de paixões em que o amor é “infinito enquanto dura”, mas em que vamos alterando sempre o nosso parceiro (qual Vinicius de Moraes, que se casou e descasou 9 vezes…); podemos também matarmo-nos (juntamente com a nossa amada) enquanto estamos apaixonados (quais Romeu e Julieta), cumprindo assim, efectivamente, o desígnio “viveram felizes para sempre”!; outra alternativa é construir uma relação a partir da amizade e evoluir para um amor sustentável; ou aprender a amar o outro, depois de morrer a paixão que nos ligava, e conviver com a lembrança dessa paixão; ou alicerçar o casamento num qualquer compromisso (religioso, familiar, económico, etc.) e manter essa empresa em bom funcionamento…

Enfim, nesta vida podemos querer ter tudo mas nunca vamos ter tudo. Se queremos ser felizes é bom estarmos preparados para o real e começar por não ensinar mentiras às criancinhas…

segunda-feira, 1 de abril de 2013

 Estou um bocado farta destas coisas, fartas das pessoas querem decidir o meu caminho, farta que queiram andar pelos caminhos que devida de ser eu a percorrer … 
 Parece que os sonhos de uma vida deixaram de ter sentido, parece que nunca soube lutar pelo que quis, parece que fiz tudo o que estava ao meu alcance para os conquistar, mas ao mesmo tempo, parece que nunca fiz nada…
 Não me sinto realizada, não me sinto capaz de lutar, de sonhar, de dizer basta a todas estas coisas…
 Olho em redor e parece que as outras pessoas lutam verdadeiramente por aquilo que querem, arriscam e fazem voos altos... eu que apenas fico assistindo cá em baixo, impávida,  sempre com o medo e com o receio imposto por alguém, sempre demasiado pensativa para o que se quer, sempre com uma vozinha constante, deixa-te estar aqui, que aqui é a tua zona de conforto, não arrisques, não sonhes, não projetes, não imagines, não nada, limita-te ao normal, limita-te ao banal, limita-te ao que sempre foi a tua vida, uma coisa chata onde não consegues agarrar a ponta do sentido que ela tem…
 Eu quero arriscar, quero sonhar, e sonhar cada vez mais alto, fazer sair do papel, os riscos e rabiscos que crio, faze-los reais, lutar por eles, dar um sentido à vida, que realmente, neste momento, não tenho….
 Sempre me limitei a aceitar o que me imponham, sempre me limitei a ouvir e calar, e se dizia alguma coisa, estava a faltar ao respeito, ou devia estar calada…
 A serio que estou farta de fazerem os planos que devia ser eu a projetar, e depois ainda dizem, apenas estou a assegurar o teu futuro, ou, apenas estou a ver se não sais magoada… então mas se eu quiser cair, magoar-me, levantar, cair de novo, chorar, e levantar-me mais uma vez?
 Farta de, não vás por ai, é tempo perdido, não vás por ai vai dar errado, eu sei… e se eu quiser ver se dá, e se eu quiser experimentar… não tenho direito a tal? Porquê? Apenas limitam-se a barrar-me a entrada e que escolha outro caminho, mas tem de estar de acordo com o que se deseja e quer…. E depois ainda perguntar, então o que e que queres?

Deixem-me sonhar, é o que eu quero….